quinta-feira, 18 de outubro de 2018

18 de outubro, dia do Médico.

Neste 18 de outubro tento vascular na memória, não de chip, mas aquela que vai do cérebro até o cerebelo, os nomes de tantos médicos que tive contágio. Pessoas, personagens analíticos... No fim sempre me curavam, seja pelo olhar, seja pela pinça. Mas, lembrar mesmo talvez não me lembre, por isso preciso, devo; apalpar, tocar, sentir. Viajar de vermelho a azul batendo às portas cálcicas. Não! Seus nomes nunca lembrarei, sou pobre, sou mortal. Resta pouco, apenas me anestesiar e perceber que sobra um musculoso pulsar. Sim neste mesmo pulsar ainda encontro a Vida... O encontro com essa Vida não é colateral, mas busca, Busca Verdadeira. Enfim encontrei, sempre encontro; não mais nomes, não mais seres, apenas corações... Corações...

Parabéns aos Médicos.
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Bom 2018 ! Ano da Prev(s)idência.

... E quanto a atual Previdência? Ela também não é uma lei? Por acaso a nossa atual Previdência não foi votada no tempo de nossos pais? - Eles acreditaram nela.
Por quê agora querem mudar? - Apenas Conveniência? E daqui a dez anos? - Será que nova reforma previdenciária precisará atender a conveniência da Côrte Política, que hoje, até por leis, mais do que no passado e com possibilidades cada vez maiores de ser inchada por cargos em comissão que menosprezam a honra de valores acadêmicos para um concurso público?

Há nas entrelinhas da propaganda veiculada em prol desta iníqua Reforma preparada por maus políticos e maus governantes, ambos por sinal, corruptos, a tentativa de dividirem suas culpas com os Servidores Públicos de um modo geral, os Concursados, também os culpando pela precariedade das Administrações Federais, Estaduais e Municipais.

Se pudéssemos elencar numa "medida para todas as coisas", certamente o Servidor Público (aquele que prestou concurso público) estaria no topo da lista, pois ele puxa para cima o nivel de dignidade de qualquer trabalhador de sua nação ao mais alto grau de dignidade humana na relação Homem-Trabalho.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A Consciência é sempre consciência de Algo *


As pessoas se sacrificam sem saber que se sacrificam. O Senhor dos Evangelhos Cristãos, se encarnou no meio de nós, humanos, para nos dar a oportunidade de nos conscientizar sobre tal sacrifício, que é intrínseco, pessoal e próprio à cada um de nós.

A alma anseia pelo reino e quem padece é o corpo, o qual luta - como a luta pela própria sobrevivência - para garantir-lhe a Paz, própria prometida pelo Reino Divino.

Nesta luta, sem saber que estamos "danificando" nossos corpos, percebe-se que o Homem vai cada vez mais isolando-se na Técnica, se esquecendo que quando somos todos irmãos, não é o inerente interesse próprio de cada um pelas necessidades fisiológicas,  segurança e auto-realização [Maslow] que deve prevalecer.

Diferentemente desta Vaidade pelo Dinheiro, a gentileza, a boa vontade, a empatia deveriam ser a Causa para o efeito de uma grande Cura coletiva de nossos corpos - pronto... O Reino citado por Jesus nos evangelhos já estará no meio de nós: a isto podemos simplesmente dar o nome por uma palavrinha que transcende o Homem deste instante em diante; a palavrinha se chama Consciência.

por Armando Poli Junior.

Edmund Husserl

sábado, 18 de março de 2017

Rezar ou Lembrar

A filosofia tem destas coisas...
Muitos a compreendem como ateia.
Mas ao contrário, a Fenomenologia, até santa elegeu (Edith Stein)
E aí? E quando você reza? Você reza (ora) mesmo ou apenas lembra???

Ter a percepção de Deus é uma coisa, agora... No momento de rezar, ter a lembrança de Deus tirado de um filme, ou de uma página escrita, ou mesmo de um fato tido como milagre em algum momento da sua vida é algo que muitas vezes pode nos confundir sobre aquilo que entendemos como rezar a Deus. Você poderá dizer que sim, está rezando e conversando com Deus. Está mesmo? - Não quero instaurar a dúvida aqui, apenas uma reflexão, pois muitas vezes sem perceber somos assaltados por nossas emoções que acabam criando certas confusões. Portanto pensar ou afirmar que se está rezando a Deus é algo muito importante e muitas vezes confundimos pensando que estamos tendo a experiência de Deus em nosso rezar, principalmente quando os arrepios emotivos acontecem. Qual é afinal a essência do rezar? Estaríamos verdadeiramente tendo a experiência de um contato com Deus? Ou apenas lembramos e cotidianamente lembramos todos os dias? E olha que as lembranças são reais. Elas existem mesmo. Enquanto que o aparecer de Deus durante o nosso rezar deve ser visto com cautela, tão quanto não conheçamos bem as diferenças entre percepção, lembrança e imaginação.
São nestas coisas que a filosofia investe sua razão.

Deus tem que ser entendido pela razão e não pela nossa emoção. A emoção é duvidosa. Ambas, razão e emoção, são humanas, mas só a razão pode optar intelectivamente por uma ação. Os Anjos fazem isto de maneira definitiva. Segundo a Filosofia Tomista (São  Tomás de Aquino) a decisão e, portanto, opção tomada por um Anjo à Deus ou tomada como Não à Deus é o que deve irremediavelmente torná- lo dividido, cindido, diábolos à Deus.

A opção de realizar a percepção de Deus através do contato com o próximo é uma virtude que nós, pobres Homens, poderíamos treinar se fizéssemos a prática cotidiana da melhor e mais perfeita oblação a Deus. Neste ponto, não poderia deixar de lado, aqui nesta reflexão, o então bi-milenar ofício da missa católica que, incompreendida no início da modernidade, muitas pessoas de outras denominações cristãs atualmente já começam a incluir em seus rituais o "partilhar do pão".

Mas, voltando a nossa reza (estou rezando com você) — o núcleo familiar é que oferece por excelência esta oportunidade de realizar a percepção de Deus. É no momento cotidiano do perdão entre pai e filho, marido e esposa, que se dá a (percepção real) verdadeira reza, oração e contato com Deus (ou pelo menos, Àquilo que você entende como sendo Deus). É no momento do contato físico humano (p. ex. desde um simples abraço até...) que se dá este verdadeiro rezar a seu Deus.

Portanto, lembrar é algo que ajuda, mas a compreensão do rezar só se dá após a decisão de optar pelo Ato e, pelo ato não se dá outra coisa que não seja a confrontação daquilo que perceptivelmente acontece (acontece = Fenômeno) com aquilo de que lembramos ou até imaginamos. Torna-se assim algo Não Contraditório, Uma Verdade.

Lembrar de Deus para quem acha que está tendo a percepção de Deus é apenas imaginação. Cada um de nós somente poderá caminhar nas escadas daquilo de que se acredita através do que cada um compreender sobre como conhece sua própria Essência (o que é aquilo que é?); nesta escada você pode permanecer parado ou descer, ou mesmo subir bem devagarzinho, mas se optar em continuar a subir, então você verá meio nublado no começo, mais um pouco e se surpreenderá com uma belíssima paisagem holística (do todo) que irá aparecer (o aparecer = fenômeno).

Vamos caminhar nesta escada?

--/--


à Santa Tereza Benedita da Cruz - terça-padroeira da Europa.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

            Lendo CONTATO

"se perceber o numinoso constitui a essência da religião, quem você diria que é mais religioso: as pessoas que seguem a religião burocratizada ou as pessoas que estudam a ciência?” (SAGAN, 1997)

Comentário.
Para entender o termo “numinoso” escrito no livro Contato, Sagan vai se referir ao filosofo da religião, Rudolf Otto e sua obra “O Sagrado, o irracional na ideia do divino e sua relação ao racional” – (RAZZOTTI, 2002, p.154) nota descrevendo que “no capítulo XX de O sagrado, Otto, de maneira inequívoca, afirma que” “são duas coisas muito distintas crer somente numa realidade supra-sensível ou ter a experiência dela; ter idéias [sic] acerca do sagrado ou percebê-lo e senti-lo como realidade operante que se manifesta ativamente”. (apud OTTO, 1966, p. 139)

OTTO, R. Il sacro. L'irrazionale nella idea del divino e la sua relazione al razionale. Milano: Feltrinelli, 1966. [trad. italiana de Das Heilige. Über das irrationale in der idee des Göttlichen und sein verhältnis zun rationalen. Breslau, 1917].
RAZZOTTI, B. A universalidade do religioso. In: PENZO, G.; GIBELLINI, R.; (ORG.) Deus na filosofia do século XX. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap. 10.
SAGAN, C. Contato. Tradução de Donaldson M Garschagen. São Paulo: Companhia Das Letras, 1997.



terça-feira, 25 de outubro de 2016

O sorriso do ser.

O sorriso do ser é uma das coisas mais difíceis de ser encontrado. Mesmo com a técnica cada vez mais tecnológica e com o árduo estudo que podem consagrar pessoas envolvidas nesta particular e espetacular busca: a busca pelo sorriso do ser. Sabemos que quase todo mundo não dá importância para isso.

Após tal empreendedora busca, ocorrerá enfim o encontro com o sorriso do ser. Encontro este que certamente estará envolvido por dois tipos de bem estar, se num identifica um sorriso, mesmo que seja um sorriso negativo então a reflexão será o norte que curará ele, ou preservará se for um sorriso já pleno de dignidade. Ainda, o outro bem estar diz respeito à ética praticada na busca do sorriso do ser, que não é ética para os outros, mas é ética para si. É a própria compreensão de si mesmo, mas que é sempre transformada, desnudada para uma ética maior, política.


Parabéns Dentistas pelo seu dia. 25 de Outubro, dia do Dentista.

sábado, 15 de outubro de 2016

A classe dos professores – como qualquer outra classe.

Neste dia 15 de outubro homenageia-se como data denominada no Brasil, o Dia dos Professores. Também não se pode deixar de observar a etimologia desta data que remeterá a data católica de importante veneração à Santa Teresa D’Ávila – Doutora, senão dentro todos os doutores a maior. Embora, a colocação desta etimologia advenha de crença religiosa, a menção dela é apenas para posicionamento histórico ao qual quer o texto apresentar uma singela reflexão para esta data professoral.

Pois bem, hoje a classe de professores pode muito bem ser considerada de mesmo nível a diversas outras classes de nível superior do Brasil e também por que não, de diversos países do mundo não é mesmo? – Entretanto há que se considerar que muitos a tenham como o ideal de uma classe profissional admitindo-a como a classe das classes, ou a mais importante classe que transcende o próprio princípio do que se entenda como classe profissional.

Quando o tema apresenta a classe dos professores como qualquer outra classe, não apenas quer trazer à luz da reflexão a banalização da classe professoral, como também elaborar uma compreensão sobre o quanto viciadas estariam todas as classes profissionais. A própria banalização de qualquer classe decorre dos vícios que a fazem teimar para a não busca de seu próprio desenvolvimento pleno. A classe dos professores infelizmente não está livre disto, ou melhor, não está livre deste estado de vício que a caracterizaria como viciada na contemporaneidade. Como um jogo de dados em que os dados apresentem um defeito e teimem sempre em sucessivas jogadas a sempre mostrar suas mesmas faces numerais, portanto é neste sentido que se adjetiva como viciada. Deixemos para trás as características da conjuntura política, também a social e porque não também as pluralidades culturais. Mesmo não querendo esquecê-las e sabendo do impacto que tenham em seu relativo tanto negativo quanto positivo, mas por hora, para o aprofundamento da reflexão da classe dos professores é por bom processo, fenomenológico, diga-se de passagem, separar tais características como se colocando entre parênteses, afinal o propósito do texto é oferecer à classe dos professores uma reflexão que possa oferecer algum tipo de informação que verdadeiramente vise transcendê-la do que seja hoje uma simples classe profissional.

No desenvolvimento de suas habilidades, capacidades e potencialidades a classe dos professores e seus membros atribuem-se uns aos outros o mesmo que a si mesmo; assim atribui-se uma conduta que se espera do que seja um professor, afinal faz parte de uma classe e não pode deixar de o sê-lo. Contudo a questão que se quer amparar diz respeito a algo mais profundo do que a cientificidade sempre e cotidianamente apresentada à consciência de cada professor. Os professores em cada uma de suas áreas científicas tem sempre uma resposta pronta, uma resposta previamente formulada com base em vasto e competente rigor metodológico científico e fica muito clara que é justamente isto a característica que todos e também cada um dos professores alegará como sendo a justa justificativa que ampare a ideia de que a classe dos professores é uma classe que em seu ideal é a mais cara – não no sentido monetário, é lógico – a mais importante, a mais qualificada a passar um aprendizado que diste cada vez mais do senso-comum para dar ao aluno a compreensão de mundo tão necessária. Mas... Onde está o vicio? Onde estariam as faces de dados que teimam a se mostrar sempre as mesmas dentro da classe dos professores? O que é este estado de vício profissional que vai minando o professor sem ele mesmo perceber a podridão que o levará? Ou não terá mesmo vícios – erro algum? – Pois os anos em licenciamento o purgaram de todo o mal, a seguir os pós anos pedagógicos também o consagraram tal qual a um semideus que, beneditinamente, portando sua regra científica sente-se amparado, fortalecido, qualificado e até santificadamente pronto para se apresentar diante da comunidade discente.

O verdadeiro processo de conhecimento não são as vias científicas de fato, isto é, não é o conhecimento das Ciências de Fatos que admitem o processo que levou o professor a obter conhecimento, como um processo verdadeiro. O professor que se prende à sua base científica estará contaminado por um positivismo doido que avança sem igual todos os dias em nossas salas de aulas, causando tão mais perplexidade, tanto mais uma corda de tensão entre professor e aluno. O processo do conhecimento que levou o professor a obter sua particular ciência de fato foi um processo de conhecimento baseado na própria ciência de fato. [Neste momento é necessário entender os níveis mais baixos de consciência que o texto está levando à reflexão do leitor.] Para se livrar de um processo de conhecimento positivista e viciado, isto é, um processo que leve o professor a obter o conhecimento apenas de alguma Ciência em loco e específica é necessário que o professor se aprofunde ainda mais na sua consciência e observe por um exercício verdadeiramente transcendental e que o leve a questionar a validade ou não daquela ciência. Que o leve a perguntar, o que é esta ciência que professo? Não se trata de uma pergunta histórica para uma resposta histórica – não. É diferente, afinal é “tentar ouvir” a validade da ciência que professa como uma validade sólida e verdadeira, só que antes daquela ciência se tornar a sua Ciência que professará, isto é, que acreditará. A busca da Verdade de sua ciência baseia-se não num processo de conhecimento pela ciência de fato em si, mas diferentemente por um processo que questione se ela, sua ciência, é verdadeira ou não a partir das estruturas de consciência dele mesmo, professor e de como esta clarificação de ciência se dá na sua própria estrutura de consciência[1]. Estrutura de consciência que é a mesma em todos os seres humanos, mas que se dá por intensidades diferentes.

Como vimos não é tarefa fácil. É difícil, é muito difícil. Mas após este exercício filosófico o professor pode se tornar melhor e transcendental, aí sim a classe será a Verdadeira Classe de Professores que tanto estimamos e desejamos através daquele Ideal do Ser para o Nós só que a agora a partir do Ser para Si.
por Armando Poli Junior.



[1]
BELLO, A. A. Introdução à fenomenologia. Tradução de Ir. Jacinta Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Bauru, SP: Edusc, 2006. 108 p.
HUSSERL, E. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Tradução de Márcio Suzuki. 4. ed. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006. 384 p.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

OUROS e PRATAS, televisivamente bronzeados

Nesta Rio-2016, nota ZERO, para a organização esportiva do COB - Comitê Olímpico Brasileiro. O COB ainda pensa numa colocação entre os 10 primeiros(isto é, 10°) demonstrando basear-se no esmo e no acaso.

O grande salvador da pátria esportiva nacional de um fiasco na Rio-2016, parece ser mesmo as Forças Armadas, que por seu foco e por seus bravos ainda mantêm o vigor de colocações olímpicas como a de rankings em edições anteriores. Esta não é  nenhuma defesa ideológica ou política, apenas constatação real de vitrine esportiva, sobre a qual a pífia cartolagem brasileira poderia tentar espelhar, sobretudo à nações como, pelo menos Itália e Alemanha, quem dera EUA...

Na próxima segunda-feira, seguiremos o "day after" voltando-nos à velha rotina de nossa rebuscada política nacional e enquanto isso, passivos, continuaremos esperando havelanges ou pelés no torpor de um cotidiano oprimido pela própria ignorância.

Sem dúvida alguma nesta Rio-2016 o Brasil assumiu cordeirosamente a atitude que o Mundo queria ver; a de sempre Plantador de Árvores, pobre e escarnecido, enquanto imperialistas às destroem em favor de seu ritmo econômico e, ainda mais, debutam aparências douradas em Jogos aos quais representem apenas realidade, mas nunca representaram a Verdade.

Os Jogos da Rio-2016 ainda não acabaram. Quem sabe esta reflexão esteja errada, quem sabe Coubertin e antigos Gregos ainda se valham por ideais que superem qualquer reflexão. Quem sabe seus protagonistas - os atletas - dependam menos de suas imagens satelicamente transmitidas e continue cada vez mais, corajosa e silenciosamente, fazer-se dependerem a nós, míseros mortais, como chama que nos ilumine para um mundo melhor e mais humano.

por  Armando Poli Junior

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sartre:                                                           .


Introdução


O pensamento de Jean-Paul Sartre (1905-1980) é extremamente indicado a todos estudantes, principalmente aos de Filosofia; possui uma força e qualidade que certamente agradarão o acadêmico que deve ter uma leitura calma e ao mesmo tempo inarredia. Neste sentido, o pensamento de Sartre também pode ser considerado como um pensamento balizador ao pensamento do Homem na contemporaneidade, isto é, como um pensamento que proponha ao Homem impactar-se na Paideia social em que vive e junto a isto, que faça, no próprio Homem, aparecer-se em seu existir, como pensamento.

O objetivo deste trabalho não é defender o pensamento de Sartre como um modelo para o pensamento do Homem e nem como modelo para um acadêmico adotá-lo, aliás, não é conveniente um pensador adotar o pensamento de outro, por conta de culpar-se de não ser original e, portanto, não se pautar com a verdade de seu próprio Ser. Também, não é conveniente em razão que todos os pensamentos dos consagrados filósofos em todos os tempos têm a sua argumentação que é suficientemente válida de acordo com o contexto histórico. Contrariamente a isto, o pensador, ou filosofo, moderno tem de ter em mente que o pensamento consagrado deve servir de âncora para poder elevar seguramente seu pensamento.

Assim, conhecer o pensamento de Sartre é fincar uma âncora para desenvolver o em si de cada um e, muito embora seja desejável, que este indigno trabalho deva representar o pensamento do eu de seu autor, mas, muito mais, deva também representar o pensamento do outro-de-si-mesmo como seu autor.
 

O inicio do caminho sartriano: A existência precede a essência


Existem argumentações históricas em que Sartre pode também versar sua existência que precede a essência; poderíamos ter em consideração o mito de Epimeteu retratado no Protágoras de Platão em que, mesmo para o mundo helênico no tempo de Platão havia, segundo o relato a seguir, dúvidas a respeito da origem da natureza atribuída ao homem, isto é, havia dúvidas sobre a própria natureza do Homem; natureza esta que carecia de um sentido de essência natural e, portanto, segundo Platão, o Homem ficou sem nada. Sendo assim a essência humana advinda do fogo roubado por Prometeu não configura o Homem a pertencer a uma condição natural por essência própria, visto que nos parece que a essência do Homem foi emprestada de fora do Homem, isto é, foi emprestada dos deuses do Olimpo:

Quando estavam prontas para ser conduzidas para a luz do dia, os deuses encarregaram Prometeu e Epimeteu de as organizar e de atribuir a cada uma capacidades que as distinguissem. Epimeteu pediu, então, a Prometeu que o deixasse fazer essa distribuição. «Depois de eu a ter feito», disse, «tu passas-lhes uma revista» [...] Deste modo, Epimeteu — que não era lá muito esperto —  esqueceu-se que gastara todas as qualidades com os animais irracionais; fora desta organização, restava-lhe ainda a raça dos homens e sentia-se embaraçado quanto ao que fazer. Estava ele nesta aflição, chega Prometeu para inspeccionar a distribuição e vê que, enquanto as outras espécies estão convenientemente providas de tudo quanto necessitam, o homem está nu, descalço, sem abrigo e sem defesa[1].

Corroborando na investida argumentativa Sartre poderá garantir seu pressuposto com a argumentação de Rousseau, visto que, tudo o que existe em torno do Homem tem uma essência que corresponde à natureza de cada coisa observada:

É assim que um pombo morre de fome perto de uma vasilha cheia das melhores carnes, e um gato sobre uma porção de frutas ou de grãos, embora ambos pudessem nutrir-se com os alimentos que desdenham se procurassem experimentá-lo; é assim que os homens dissolutos se entregam a excessos que lhes ocasionam a febre e a morte, porque o espírito deprava os sentidos, e a vontade fala ainda quando a natureza se cala.[2]

Este caminhar do pensamento de Sartre chega até em suas próprias obras. Por exemplo, quando Sartre vai estabelecer a crítica ao psicologismo em sua obra Esboço para uma teoria das emoções (1939), então começa a delinear seu existencialismo como algo que vai fazer o Homem ser quem ele é:

Assim ele [o psicólogo] ficará sabendo pelos outros que é homem, e sua natureza de homem não lhe será revelada de modo particular sob pretexto de que ele mesmo é aquilo que estuda. [3]


O Nada é o princípio de tudo


Como pudemos observar, para o pensamento de Sartre não há essência em nenhum tipo de Homem, nem há essência em seu gênero, por exemplo, a mulher: para Sartre não deve haver natureza na mulher que faça sua essência caracterizá-la com uma existência voltada para o lar, para a maternidade, ou mesmo educadora, procriadora, sedutora, etc. Tudo isso seria uma forma de escravidão, tudo não passaria de uma “educação social” que visaria confiscá-la para os serviços a uma sociedade escravizadora.

Uma vez escravo o Homem (mulher) contradiz aos próprios princípios que criou para si, seja nos valores dos iluministas da liberdade, fraternidade e igualdade, ou na própria emancipação do Homem como um ser que auto se desenvolve até tecnologicamente. Para Sartre se a essência determinar a vida, então o homem se tornou escravo e até escravo de si mesmo e isto não é coerente com a ética iluminista e até tecnológica[4].

Então, para Sartre, não existe a essência do Homem. Sartre vai descrever em sua obra, O ser e o nada (1943), sobre o cogito reflexivo [5], que o Homem tem uma consciência de si porque tem uma consciência reflexiva, isto é, ao Homem é feito aperceber-se diante de si um nada que surge entre seu eu que analisa e o seu eu que age. É justamente neste distanciamento, neste vazio entre seus eus que ocorre o Nada: “Ser, para o Para-si, é nadificar o Em-si que ele é” [6]. Persuadido da consciência de si, então acaba sendo criado no Homem um vazio entre quem ele é e quem ele analisa quem é, por ex.: eu digo, o aluno Armando é falador. O fato de eu falar sobre algo e o fato de julgar o falar, surgiram, para Sartre, dois Armandos. Ora, a consciência reflexiva, ou de si, faz nascer um grande não sei, que não é o não-ser – o não-ser é negação, além do que, a negação é alguma coisa – porém este não sei se refere ao Nada. Este não sei é o Nada:

Para que o homem possa questionar, é preciso que possa ser seu próprio nada, ou seja, o homem não pode estar na origem do não ser no ser a menos que seu ser se tenha repassado de nada, em si e por si mesmo [...] [7]


Liberdade, Angústia e Má fé.


Conhecer o pensamento de Sartre nos permite caminhar na região existencialista não perdendo de vista outra região, qual seja a essencialista. Neste passeio encontramos palavras ou termos que poderão fazer toda diferença estando localizados, tais termos, ou na região essencialista, ou na região existencialista. Um termo que é objeto do estudo existencialista de Sartre é a Liberdade. Uma vez que, já conhecemos o pensamento sartriano, a existência precede a essência, e também que o Homem se nadifica, tanto no mito de Epimeteu onde não sobraram quaisquer atributos ao Homem ficando ele sem natureza, quanto na antropologia da Origem de Rousseau em que pombo e gato já nascem com sua natureza determinada pela essência do que são e, doravante ao Homem sempre sua natureza se cala, então Sartre vai observar que o Homem responde com um não sei quando responde àquele vazio entre seus dois Homens – aquele que analisa e aquele que age -, assim a corrente de pensamento existencialista admitirá, por não contradição, que a amplitude do termo Liberdade só pode ser o que é se não for limitado por uma essência que o controle; vejamos o que o professor Barros Fº (2012) nos fala sobre isto:

O existencialismo se funda numa premissa intelectual [...] Liberdade para deliberar sobre a vida. Esta liberdade só faz sentido justamente se você não for essencialista. Porque se você for essencialista e partir da premissa de uma essência que determina a vida, evidentemente, em relação à essência não há liberdade alguma. (01h39min:00)

            A visão ou região existencialista condena aquela liberdade que pressupõe uma essência. Esta essência funciona como uma marca que vai limitar o Homem a ser aquilo para qual é o seu fim, por exemplo, é próprio da visão essencialista quando esta, vê a mulher destinada para a maternidade e também quando vê a criança que, inocentemente, se vê comparada com tios, avós, e pais que já morreram ou não e, portanto tal criança ficará estigmatizada com a essência de seus antepassados, o que para os outros da família poderá ser como uma perpetuação dos entes queridos, diferentemente àquela criança, será como a essência de sua própria natureza que certamente limitará sua Liberdade. Também podemos comparar neste exemplo as crianças que possuem o mesmo nome de seus pais, caso dos juniores, filhos, netos, etc.

            Portanto, o conceito de Liberdade em Sartre é muito amplo, pois ele retrata a Liberdade a partir da nadificação do Homem: “Ser, para o Para-si, é nadificar o Em-si que ele é” [8]; mas não esqueçamos que o Homem existe e, porque ele existe, então, o Homem, é sempre o existir pelo que ele faz, isto é, o Homem existirá no Para-si sempre que estiver fazendo e interessante notar que, o Homem enquanto Homem é um eterno fazer. Este ato, fazer, o impele a realizar algo para depois perceber-se (pelo fazer) quem ele É. Este fazer não pressupõe nada antes, pois é uma busca pelo fazer-se, pelo tornar-se; enfim, aparecer a si mesmo: “[...] a nadifcação na forma do ‘reflexo-refletidor’. O homem é livre porque não é si mesmo, mas presença a si.” [9]. Sartre elabora a celebre conclusão: “Para-além dos móbeis e motivos de meu ato: estou condenado a ser livre.” [10].

            Esta amplitude de Sartre diante da Liberdade existencialista torna a Liberdade libertadora e fundamental, mas não numa condição de que resolva o problema do Homem, pelo contrário, ela vai cada vez mais abrir o Homem para novas possibilidades de Liberdade a fim de satisfazer sua intrínseca busca que tem pela natureza essencialista. Esta condenação que Sartre coloca diz respeito à Liberdade que sempre é colocada diante do Homem quando ele não sabe o que fazer, não sabe que respostas dar, pois não tem uma natureza que o determine. O Homem é dono de seu fazer e o faz pela Liberdade que tem que fazer. Assim esta Liberdade coloca ao Homem algumas ou até inúmeras escolhas às quais o Homem não sabe qual escolher; ele não tem natureza própria definida. A tristeza por não saber o que fazer diante da Liberdade que o opõe inúmeras saídas é algo aterrador ao Homem: surge sua Angústia: “[...] é na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade [...]” [11]. É uma tristeza diferente da tristeza comum, é uma tristeza bem peculiar e desamparadora ao Homem que sabe apenas que existe, não tem essência e não sabe decidir tendo toda Liberdade para isto. Talvez Sartre não pudesse prever, quando em 1943 escreveu sobre a Angústia na obra O ser e o nada, que no final de seu século e muito mais agora no sec. XXI existiria uma enxurrada de textos de inúmeros autores, até de alguns que se tornaram best-sellers, que afirmam resolver o problema desta Angústia desamparadora no Homem seguindo alguns passos: livros de autoajuda são notáveis por agregar cada vez mais pessoas que não sabem o que fazer de suas vidas. Entretanto, se não podia prever um mercado consumidor para a solução da Angústia, ao menos Sartre conseguiu estabelecer uma reflexão muito importante para este estado de fuga da Angústia; “Na maior parte do tempo fugimos da angústia na má-fé” [12]. Sem dúvida alguma a Ma-fé, por Sartre, é o mais interessante subsídio para ser estudado em todas as Universidades sérias. À emancipação do Homem diante de seus problemas, então será de fundamental importância assumir como reflexão, se não todo pensamento sartriano, mas, pelo menos, o que diz sobre o conceito de Ma-fé: “[...] fujo para ignorar, mas não posso ignorar que fujo, e a fuga da angústia não passa de um modo de tomar consciência da angústia.” [13]. Um bom exemplo que Sartre faz sobre a Má-fé poderá ser encontrado quando relata o estudo do psiquiatra vienense Stekel, o qual em seu trabalho, A mulher frígida, constatou como núcleo da psicose feminina, a frigidez, a qual ocorre conscientemente. Sartre vai dizer:

[...] mulheres patologicamente frígidas se empenham em abstrair-se de antemão do prazer que temem: muitas, por exemplo, no ato sexual, desviam seus pensamentos para ocupações cotidianas, fazem contas domésticas. Como é possível falar aqui em inconsciente? Mas se a mulher frígida alheia sua consciência do prazer que experimenta, não faz isso cinicamente e de pleno acordo consigo mesma, mas para provar a si ser frígida. Estamos sem dúvida ante um fenômeno de má-fé [...] não mais estamos no terreno da psicanálise. [14]

            A Má-fé encontra-se dentro da Angústia, porque é ela que pode nadificar a própria Angústia, acabando com ela, isto é, fugindo dela para preencher aquele vazio do cogito- reflexivo, que vimos em análise anterior. Será pela própria Liberdade que o Homem obterá esta interessante negação do Nada e, portanto trará à luz de sua consciência a própria Má-fé:

O homem que fala parece sincero e respeitoso [...] A mulher não se dá conta do que deseja: é profundamente sensível ao desejo que inspira, mas o desejo nu e cru a humilharia lhe causaria horror. [...] Mas eis que lhe seguram a mão. O gesto de seu interlocutor ameaça mudar a situação provocando uma [liberdade a escolher] decisão imediata: abandonar a mão é consentir no flerte [...] retirá-la é romper com a harmonia turva e instável que constitui o charme do momento. [...] O que acontece então é conhecido: a jovem abandona a mão, mas não percebe que a abandona [...] realizou-se o divórcio entre corpo e alma: a mão repousa inerte entre as mãos cálidas de seu companheiro, nem aceitante, nem resistente – [a mão é apenas] uma coisa. [...] essa mulher está de má-fé. [15]

            O estudo sobre a Má-fé, por Sartre, é muito pertinente aos dias atuais, pois lida também com outros conceitos como por ex., a sinceridade e a instantaneidade da má-fé. Portanto, neste estudo, Sartre nos levará a certas conclusões, como a conclusão de que: “[...] a realidade humana, em seu ser mais imediato, [...] seja o que não é e não seja o que é” [16].
 

O ser-Para-si em ser-Para-outro: a liberdade existindo para outras liberdades[17].


            “[...] a partir do momento em que outra liberdade que não a minha surge frente a mim, começo a existir em uma nova dimensão de ser [...]” [18].

A minha liberdade vai até onde começa a liberdade do outro; será que esta velha frase que ouvimos sempre ser dita, a qual mesmo ocultando o termo limitar conceberia verdadeiramente a noção de liberdade entre mim e outro, ou contrariamente quer impor não liberdade, mas limitações? Ainda podemos questionar se esta, não seria uma frase que tenta, mas não consegue representar com banal simplificação um pseudo-entendimento de alguém que nunca conseguiu entender Sartre e sua nova dimensão de ser? Para podermos ingressar mais este questionamento à realidade atual, precisamos recorrer ao próprio Sartre para ver o que ele diz. Interessante notar que quando Sartre vai tratar a liberdade tendo como pano de fundo o Outro, então escreve ter encontrado um real limite à liberdade [19]. Como Sartre vai lidar com esta concepção-problema que vem à tona como um limite? Sartre encara este desafio não tomando atalhos e nem se esquivando e também nem tentando oferecer outras saídas que representem argumentações que o contradigam. Não: Sartre aborda este limite à liberdade através da própria argumentação existencialista que defende:

[...] deve-se entender o seguinte: o limite imposto não provém da ação dos outros. [...] O verdadeiro limite à minha liberdade está pura e simplesmente no próprio fato de que um Outro me capta como Outro-objeto [...] [20].

Portanto, o ser-Para-si existe objetivamente e é captado pelo Outro numa dimensão que se dá em mim, isto é, numa dimensão de ser-Para-outro. Ainda, segundo Sartre, referindo-se a este limite, então podemos supor que em relação a mim, sou o único que soberanamente posso limitar a liberdade em mim mesmo, visto que este é, em mim, um ato livre, contudo por causa do Outro, Sartre vai observar algo sobre esta limitação que se dará em novo nível, uma vez que, além do existir de mim há agora o existir do Outro: “[...] o Para-si assumindo seu ser-para-o-Outro no e pelo próprio ato que reconhece a existência do Outro” [21]. Logo, encontro meus limites na existência da liberdade do Outro.

Mas afinal, este Outro então deve ser “bonzinho”? Pois, se este traço de unidade[22] marcante entre mim e o Outro nos dá entender que existe uma dialética branda, amigável e apaziguadora entre o outro e eu, então podemos perceber que a relação entre o eu e o outro não será mais marcada pela liberdade, mas por uma tolerância. Tolerância não é liberdade; quando há tolerância, então há muito mais uma limitação da liberdade do que alguma de outras, dentre as muitas liberdades que passam a existir a partir da Liberdade fundamental de Sartre. Esta tolerância como limitação leva a perguntar, como ficará o movimento dialético da relação entre o eu e o outro quando ocorrerem sentimentos negativos como: medo, constrangimento, ira, decepção, etc.? Sartre quer preservar a liberdade do eu e do outro e sabe que esta preservação só pode ocorrer no eu tendo o Outro como subjetividade:

Embora disponha de uma infinidade de maneiras de assumir meu ser-Para-outro, simplesmente não posso assumi-lo; reencontramos aqui esta condenação à liberdade que definimos anteriormente como facticidade; não posso abster-me totalmente com relação àquilo que sou (para o Outro) – pois recusar não é abster-se, mas outro modo de assumir –, nem padecê-lo passivamente (o que, em certo sentido, dá no mesmo); no furor, na ira, no orgulho, na vergonha, na recusa nauseante ou na reivindicação jubilosa, é necessário que eu escolha ser o que sou.[23]
 

Conclusão


Sartre me foi apresentado como um pensador muito peculiar, filósofo, psicólogo, teatrólogo, escritor... Enfim, ainda a mim, parece uma personalidade misteriosa, pois coloca seu eu em mim. Muito embora, devo dizer, não é bom para o estudante de Filosofia adotar um pensamento que não seja o seu próprio pensamento como modelo filosófico, percebi em Sartre duas qualidades: primeira, a de uma amplitude maior do que esperava acerca do como o eu e o Outro ocorrem fenomenologicamente em mim e, segunda que seus escritos possibilitam uma melhor compreensão sobre minha vida vívida. Ao longo do estudo sobre Sartre surgiam em minha mente imagens como flashes de minha infância e adolescência, que hora me condenavam hora me absolviam; se isto foi bom ou mal para mim, então não sei, mas me senti uma pessoa muito melhor após estudar Sartre.

 

Referências Bibliográficas:


SARTRE, J.-P. Esboço para uma teoria das emoções. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009, 96 p.

SARTRE, J.-P. O ser e o nada - ensaio de Ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 20. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 783 p.
 
e-referências:

BARROS FILHO, C. Natureza Humana: Mitologia Grega e Sartre. Espaço Ética, 2011. Disponivel em: . Acesso em: 21 maio 2013.

PLATÃO. Protágoras. Scribd, 2012. Disponivel em: . Acesso em: 20 maio 2013.
ROUSSEAU, J.-J. J.J.Rousseau_Origem_e_fundamento_da_desigualdade_entre_os_homens.pdf. Ebookbrowse, 2012. Disponivel em: . Acesso em: 10 maio 2013.



[1]  (PLATÃO, 2012, 320d – 321c, p.18-19)
[2]  (ROUSSEAU, 2012, p. 18)
[3]  (SARTRE, 2009, p. 15)
[4]  Persuadi-me por considerar o termo tecnologia em razão de que, embora vivamos ainda algumas circunstâncias escravagistas, devemos ter em consideração que a sociedade moderna, no final das contas, está se desenvolvendo tecnologicamente, muito bem obrigado... Este desenvolvimento se dá diametralmente em oposição ao movimento escravagista (em seu sentido amplo). Este Homem cada vez mais livre, também pode configurar o avanço tecnológico que ele próprio foi obtendo ao longo do tempo e principalmente no século XX. Ora, afirmar que o Homem desenvolveu tecnologia é o mesmo que afirmar que o Homem teve emancipações libertárias na sociedade, como, por exemplo, o reconhecimento dos direitos da mulher.
[5]  (SARTRE, 2011, p. 91)
[6]  (Ibidem, p. 543)
[7]  (Ibidem, p. 91)
[8]  (SARTRE, 2011, p. 543)
[9]  (Ibidem, p. 545)
[10] (Ibidem, p. 543)
[11] (Ibidem, p. 72)
[12]  (SARTRE, p. 681)
[13]  (Ibidem, p. 89)
[14]  (Ibidem, p. 100)
[15]  (Ibidem, p. 101-102)
[16]  (SARTRE, 2011, p. 115)
[17]  (Ibidem, p. 644)
[18]  (Ibidem, p. 642)
[19]  (Ibidem, p. 643)
[20]  (Ibidem, idem.)
[21]  (SARTRE, 2011, p. 648)
[22]  (Ibidem, p. 645)
[23]  (Ibidem, p. 648)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Adorno e Horkheimer: Indústria Cultural: um recorte da Teoria Crítica[1]

Introdução
            Da obra Dialética do esclarecimento[2], que não obstante ao ano de sua publicação, 1944, poderá dela ser retirado – por uma análise atemporal e, portanto, que ainda pode nos dizer muito sobre nossa atualidade – a parte que descreve uma Indústria Cultural a qual é versada num capítulo com profundidade e maturidade filosófica ímpar, que se é difícil penetrar em suas entranhas, então, por outro lado, demonstra uma autêntica crítica indispensável para o Homem refletir sobre seu futuro, sobre sua evolução, não apenas para uma evolução tecnológica, mas tão mais para uma evolução tecnológica amparada por críticas que desnudem os por quês do próprio Homem fazer suas escolhas na sua busca por um futuro melhor. 
            A temática desta exposição trilhará um caminho apenas básico o que de maneira alguma poderá substituir a essência da obra de Frankfurt[3] a qual, para quem busque seu entendimento mais profícuo deverá lê-la de maneira diligente e também crítica.

Ideia marxista como ponto de partida
            Na obra Manuscritos econômico-filosóficos[4] Karl Marx chama de indústria material costumeira uma capacidade de atividade humana sob tal intensidade que inexoravelmente ao homem está ligada, convergindo à mesma atividade não só o próprio trabalho do homem, mas também a própria natureza sensível objetiva humana:
Na indústria material costumeira (que pode ser concebida como parte daquele movimento geral, do mesmo modo que se pode conceber este como uma parte particular da indústria, pois até agora toda atividade humana era trabalho, isto é, indústria, atividade alienada de si mesma) temos perante nós, sob a forma de objetos sensíveis, estranhos e úteis, sob a forma da alienação, as forças essenciais objetivadas do homem.  (MARX, 1974, Propriedade privada e comunismo, IX, p. 19)
            Esta é, pois, uma crítica que Marx faz ao capitalismo. Quando a convergência do produto resultante do trabalho e da natureza sensível do trabalhador não é voltada ao trabalhador em sua humanidade, então Marx diz se tratar de uma alienação, “[...] que é o processo pelo qual o homem se torna estranho para si mesmo, a ponto de não se reconhecer.” (ABBAGNANO, 2007, p. 27)

A indústria cultural
Será sob este aspecto de alienação que Adorno e Horkheimer irão estabelecer uma crítica contundente a um sistema que põe “[...] em funcionamento uma poderosa máquina: a indústria cultural”. (REALE e ANTISERI, 2006, p. 474) Este termo, indústria cultural, cunhado pelos autores, terá seu estudo por uma dialética negativa. Embora Adorno opte pela dialética hegeliana, vai divergir da dialética da síntese[5] de Hegel:
Adorno baseia-se na dialética da negação, na dialética negativa, isto é, na dialética que nega a identidade entre realidade e pensamento e que, portanto, desbarata as pretensões da filosofia de captar a totalidade do real [...] afirmando a não-identidade entre ser e pensamento é que se pode garantir a não camuflagem da realidade [...]  (REALE e ANTISERI, 2006, p. 472-473)
O capitalismo detém o poder. E o poder deve ser manifestado de algum modo a todos de maneira que todos almejem, utopicamente, o mesmo poder; a ele um sentido de valor é massificado, isto é, todos podem ter a chance de tê-lo sob várias e diversas coisas. Aquele mesmo poder deve padronizar comportamentos. Modelos devem ser buscados para gerar necessidades e mesmas necessidades uniformizam linguagens para poderem pleitear através do direito objetivo[6]:
A indústria cultural realizou maldosamente o homem como ser genérico. Cada um é tão-somente [sic] aquilo mediante o que pode substituir todos os outros: ele é fungível, um mero exemplar. Ele próprio, enquanto indivíduo, é [sic] o absolutamente substituível, o puro nada [...] (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 120)

A razão instrumental
Assim, nesta possibilidade bem sucedida de crítica, Adorno e Horkheimer irão argumentando as bases, ou pilares da alienação humana por uma crítica à mídia de sua época, da qual se destacam: cinema, rádio e até televisão. Mas, importante agregar a este contexto a arte, visto que, para ele, “A indústria cultural pode se ufanar de ter levado a cabo [...] a transferência muitas vezes desajeitada da arte para a esfera do consumo [...]” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 111)
            Nesta grafia que se desenha a indústria cultural, deve haver uma sugestividade tal que seja razoável para ser admitida universalmente. Assim, não importará se é uma falsidade se obtiver aceitação por todos; basta haver uma razão, não aquela suficiente[7], mas outra: uma razão fabricada. Do excerto que se segue poderá ser inferida esta ideia de razão fabricada como, por exemplo, a arte que vai ser desempenhada pela indústria cultural num papel manipulador, arte leve[8] ou diversão, e assim, por que não ser um instrumento de razão para poder ser admitida universalmente:
A pureza da arte burguesa, que se hipostasiou como reino da liberdade em oposição à práxis material, foi obtida desde o início ao preço da exclusão das classes inferiores, mas é à causa destas classes – a verdadeira universalidade – que a arte se mantém fiel exatamente pela liberdade dos fins da falsa universalidade. (Ibidem, p. 111)
Law (2009, p. 333) consegue uma conceituação mais próxima para esta razão instrumental: “a aceitação pressurosa e acrítica da ‘razão’ – que, em vez de ser uma força para a libertação, tornou-se hoje mais um mecanismo de controle social através da tecnologia”.

Conclusão
            Com temática rica, eloquente e grande profundidade argumentativa a obra de Adorno e Horkheimer, Dialética do esclarecimento (1985), poderia, neste estudo, ter o recorte da Indústria cultural da própria Dialética do esclarecimento (1985), uma vez que, o recorte dado a este tema foi da Teoria Crítica. Embora isto passe despercebido, deve ser considerado que o recorte trata de uma dialética, como visto, uma vez presumivelmente conhecida a fundamentação dialética de Adorno. Assim, se a crítica à Indústria cultural é dura e recrudescedora, então é possível amparar seus autores apenas e tão somente na dialética, certos de que esta crítica deve ser ampliada e não sugestionar uma constrangedora atitude de impô-la de qualquer maneira não se importando com os meios que se fizerem necessários a este fim. Não. Será pela dialética, mais especificamente do esclarecimento que a massa vai se tornando indivíduo e sendo indivíduo viva seu momento com humanidade até o último dia de sua vida.

Referência Bibliográfica

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5. ed. rev e ampl. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 1210 p.
ADORNO, T. L. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antonio Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985. 224 p.
LAW, S. Guia ilustrado Zahar: filosofia. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009. 352 p.
MARX, K. H. Os pensadores. Tradução de José Arthur Giannotti. São Paulo: Abril Culltural, v. XXXV, 1974. 416 p. [ Tit. curto: Manuscritos econômico-filosóficos; outros textos escolhidos ].
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: de Nietzsche à Escola de Frankfurt. São Paulo: Paulus, v. 6, 2006. 496 p.
SANTOS, I. E. D. Manual de métodos e técnicas de pesquisa científica. 7. ed. rev. e atualiz. Niterói: Impetus, 2010. 381 p.

E referência
WIKIPÉDIA. Escola de Frankfurt, 2012. Disponivel em: . Acesso em: 1º set. 2012.



[1] “Teoria crítica, que passou à história com a denominação de ‘Escola de Frankfurt’” (ABBAGNANO, 2007)
[2]  (ADORNO e HORKHEIMER, 1985)
[3] “A segunda fase da teoria crítica da Escola de Frankfurt se centra principalmente em dois trabalhos: Dialética do Esclarecimento (1944) de Horkheimer e Adorno e Minima Moralia (1951) de Adorno. [...] o Instituto deixou a Alemanha para Genebra antes de se mudar para Nova Iorque, em 1935, onde tornou-se afiliado da Universidade Columbia. [...]Foi apenas em 1953 que o Instituto foi formalmente restabelecido em Frankfurt. ” (WIKIPÉDIA, 2012)
[4]  (MARX, 1974)
[5]  Fenomenologia do espírito
[6]  “O que esta [a arte séria] perdeu em termos de verdade confere àquela [arte leve (diversão)] a aparência de um direito objetivo.[grifo nosso]” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 112)
[7] Razão suficiente, o mesmo que Fundamento.  (ABBAGNANO, 2007, p. 975)
[8] “Ela é a má consciência social da arte séria.” (ADORNO e HORKHEIMER, 1985, p. 112)