domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Paideia da filosofia da linguagem

               Poderemos entender o papel da Linguagem na Filosofia, a partir de seu desenvolvimento histórico desde a antiguidade. Se o diálogo Crátilo de Platão é tido como o início de um estudo sobre a Filosofia da Linguagem, então poderemos pinçar da Paideia de Jaeger pontos que elucidam o nascimento da linguagem filosófica: “Já antes de se aproximar de Sócrates, quer dizer, em idade muito cedo, Platão recebera os ensinamentos filosóficos de Crátilo, sequaz [seguidor assíduo] de Heráclito.” (JAEGER, 2010, p. 595) Porém, mais tarde, Platão começa a seguir Sócrates [(Parmênides)] e isto vai repercutir no próprio Platão um dilema que ele só vai conseguir superar com sua teoria das ideias. Os diálogos platônicos serão a maneira como Platão poderá manter viva a chama investigativa da verdade socrática:
“Não é só num diálogo, mas normalmente em todos estes diálogos curtos, que falta a conclusão esperada e no final se levanta uma interrogação; esta observação, porém gera no leitor uma tensão de espírito filosófica de uma eficácia altamente educativa.” (JAEGER, 2010, p. 597)
               Ao atribuirmos a origem da Filosofia da Linguagem a Platão, nós não devemos pensar que Crátilo é a obra que, exclusivamente, irá fundar a Filosofia da Linguagem. Crátilo, apenas tentará mais uma vez explicar a estrutura básica ou a espinha dorsal do idealismo platônico: sua linguagem dialética. Mas, continuaremos atribuindo a origem da Filosofia da Linguagem a Platão enquanto sua linguagem dialética significar uma linguagem pedagógica, o que sabemos, bem da verdade, que é. Assim, se perseguirmos esta pedagogia platônica a ponto de nos aprofundarmos cada vez mais em própria dialética (ou a partir dela), não apenas na obra Crátilo, mas também em todos os diálogos platônicos que, só então, poderemos algum dia, chegarmos ao conhecimento de como funciona uma filosofia própria da linguagem. Platão sempre fomentará em seu leitor uma atitude de buscar, de se aproximar do ideal socrático, isto é, se aproximar do próprio Sócrates, seu mestre, como do próprio mundo das ideias:
“[...] as repetidas tentativas dos diálogos socráticos para se aproximarem cada vez mais do objetivo perseguido num esforço comum revelam a consumada maestria de Platão na arte pedagógica de despertar em nós esta participação ativa. [...] nosso pensamento [...] procura adiantar-se ao andamento da discussão; e Platão embora pareça colocar ponto final na conversa [...] consegue deste modo o efeito de procurarmos fazer o pensamento avançar por nossa conta [...] com isso pretende é pôr-nos nas mãos um enigma, deixando a nós resolvê-lo, pois [Platão] entende que a sua solução se encontra de um modo ou de outro ao nosso alcance.” (JAEGER, 2010, p. 597-598)
               É de se concluir partindo desta visão de Jaeger que a obra Crátilo foi uma tentativa de Platão sobre o estudo filosófico da linguagem, porém Platão não encontra uma solução satisfatória sobre os nomes e seus significados, visto que, só consegue chegar até a dupla conclusão cratiliana, ou assim dizer abinguidades entre a natureza e a convenção dos nomes. Embora não atinja seu objetivo, restará a Platão, apenas, preservar a sua estrutura dialética de linguagem livre de qualquer adulteração, sempre como formato pedagógico da sua Academia.

Bibliografia:

JAEGER, W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 1413 p. [tit. curto: A formação do homem grego].