A classe dos professores – como qualquer outra
classe.
Neste dia 15 de outubro homenageia-se como data denominada no
Brasil, o Dia dos Professores. Também não se pode deixar de observar a
etimologia desta data que remeterá a data católica de importante veneração à
Santa Teresa D’Ávila – Doutora, senão dentro todos os doutores a maior. Embora,
a colocação desta etimologia advenha de crença religiosa, a menção dela é
apenas para posicionamento histórico ao qual quer o texto apresentar uma
singela reflexão para esta data professoral.
Pois bem, hoje a classe de professores pode muito bem ser considerada de mesmo nível a diversas outras classes de nível superior do Brasil e
também por que não, de diversos países do mundo não é mesmo? – Entretanto há
que se considerar que muitos a tenham como o ideal de uma classe profissional
admitindo-a como a classe das classes, ou a mais importante classe que
transcende o próprio princípio do que se entenda como classe profissional.
Quando o tema apresenta a classe dos professores como
qualquer outra classe, não apenas quer trazer à luz da reflexão a banalização
da classe professoral, como também elaborar uma compreensão sobre o quanto
viciadas estariam todas as classes profissionais. A própria banalização de
qualquer classe decorre dos vícios que a fazem teimar para a não busca de seu
próprio desenvolvimento pleno. A classe dos professores infelizmente não está
livre disto, ou melhor, não está livre deste estado de vício que a
caracterizaria como viciada na contemporaneidade. Como um jogo de dados em que
os dados apresentem um defeito e teimem sempre em sucessivas jogadas a sempre
mostrar suas mesmas faces numerais, portanto é neste sentido que se adjetiva como viciada. Deixemos para trás as características da conjuntura política,
também a social e porque não também as pluralidades culturais. Mesmo não
querendo esquecê-las e sabendo do impacto que tenham em seu relativo tanto negativo
quanto positivo, mas por hora, para o aprofundamento da reflexão da classe dos
professores é por bom processo, fenomenológico, diga-se de passagem, separar
tais características como se colocando entre parênteses, afinal o propósito do
texto é oferecer à classe dos professores uma reflexão que possa oferecer algum
tipo de informação que verdadeiramente vise transcendê-la do que seja hoje uma
simples classe profissional.
No desenvolvimento de suas habilidades, capacidades e
potencialidades a classe dos professores e seus membros atribuem-se uns aos
outros o mesmo que a si mesmo; assim atribui-se uma conduta que se espera do
que seja um professor, afinal faz parte de uma classe e não pode deixar de o
sê-lo. Contudo a questão que se quer amparar diz respeito a algo mais profundo do
que a cientificidade sempre e cotidianamente apresentada à consciência de cada
professor. Os professores em cada uma de suas áreas científicas tem sempre uma
resposta pronta, uma resposta previamente formulada com base em vasto e
competente rigor metodológico científico e fica muito clara que é justamente
isto a característica que todos e também cada um dos professores alegará como
sendo a justa justificativa que ampare a ideia de que a classe dos professores
é uma classe que em seu ideal é a mais cara – não no sentido monetário, é
lógico – a mais importante, a mais qualificada a passar um aprendizado que diste cada vez mais do senso-comum para dar ao aluno a compreensão de mundo tão
necessária. Mas... Onde está o vicio? Onde estariam as faces de dados que
teimam a se mostrar sempre as mesmas dentro da classe dos professores? O que é
este estado de vício profissional que vai minando o professor sem ele mesmo
perceber a podridão que o levará? Ou não terá mesmo vícios – erro algum? – Pois
os anos em licenciamento o purgaram de todo o mal, a seguir os pós anos
pedagógicos também o consagraram tal qual a um semideus que, beneditinamente, portando
sua regra científica sente-se amparado, fortalecido, qualificado e até santificadamente
pronto para se apresentar diante da comunidade discente.
O verdadeiro processo de conhecimento não são as vias científicas
de fato, isto é, não é o conhecimento das Ciências de Fatos que admitem o
processo que levou o professor a obter conhecimento, como um processo
verdadeiro. O professor que se prende à sua base científica estará contaminado
por um positivismo doido que avança sem igual todos os dias em nossas salas de
aulas, causando tão mais perplexidade, tanto mais uma corda de tensão entre
professor e aluno. O processo do conhecimento que levou o professor a obter sua
particular ciência de fato foi um processo de conhecimento baseado na própria
ciência de fato. [Neste momento é necessário entender os níveis mais baixos de
consciência que o texto está levando à reflexão do leitor.] Para se livrar de
um processo de conhecimento positivista e viciado, isto é, um processo que leve
o professor a obter o conhecimento apenas de alguma Ciência em loco e
específica é necessário que o professor se aprofunde ainda mais na sua
consciência e observe por um exercício verdadeiramente transcendental e que o
leve a questionar a validade ou não daquela ciência. Que o leve a perguntar, o
que é esta ciência que professo? Não se trata de uma pergunta histórica para
uma resposta histórica – não. É diferente, afinal é “tentar ouvir” a validade
da ciência que professa como uma validade sólida e verdadeira, só que antes
daquela ciência se tornar a sua Ciência que professará, isto é, que acreditará.
A busca da Verdade de sua ciência baseia-se não num processo de conhecimento
pela ciência de fato em si, mas diferentemente por um processo que questione se
ela, sua ciência, é verdadeira ou não a partir das estruturas de consciência
dele mesmo, professor e de como esta clarificação de ciência se dá na sua própria
estrutura de consciência
[1].
Estrutura de consciência que é a mesma em todos os seres humanos, mas que se dá
por intensidades diferentes.
Como vimos não é tarefa fácil. É difícil, é muito difícil.
Mas após este exercício filosófico o professor pode se tornar melhor e
transcendental, aí sim a classe será a Verdadeira Classe de Professores que
tanto estimamos e desejamos através daquele Ideal do Ser para o Nós só que a
agora a partir do Ser para Si.
BELLO, A. A. Introdução à fenomenologia.
Tradução de Ir. Jacinta Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Bauru, SP: Edusc, 2006.
108 p.
HUSSERL, E. Ideias
para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Tradução
de Márcio Suzuki. 4. ed. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006. 384 p.