quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bertrand Russel – Detonação da Semântica da Denotação

Introdução
          A semântica de Russell usa semelhante teoria de Frege[1] (sobre o sentido e referência) no que concerne a não ser contrário à lei da contradição. Entretanto, ao longo de sua exposição semântica de sua obra “Da Denotação”[2] veremos que Russel divergiu da teoria de Frege.
          Veremos também que o propósito de Russell é eliminar por meio de uma redução aquela perspectiva pela qual as expressões denotativas (ou frases descritivas definidas[3]) expressam um significado e denotam uma denotação.
          Por fim uma exemplificação pode dar noção de quanto é importante e proveitoso o estudo desta filosofia que Russell brilhantemente inaugura a partir de seu Paradoxo da Denotação.
O caminho de Russell
          A lógica é mesmo um desses caminhos que a única peculiaridade deste mesmo caminho é que sabemos que ele existe. Também sabemos que este caminho não possui nenhum mapa e por último, só podemos conhecê-lo se o experenciarmos. Talvez seja esta a característica empirística utilizado por Russell ao longo de sua vida.
          A leitura do texto de Russell de como ele resolve o Paradoxo da Denotação deve acontecer por um sentido especial, isto é, do leitor para com a obra, relendo trechos, indo mais a frente, voltando um pouco atrás, ligando frases, riscando o livro, escrevendo num papel, usando a borracha e, o mais importante, constantemente devendo auto perguntar-se, sempre. Desvios não levarão a lugar algum. Deve-se encarar o caminho sem medo e com bom ânimo para vencer as etapas de seus procedimentos ou sequências que por estarem sempre ligadas umas as outras, nos fazem mover os pés, como quando lembramos a primeira vez que pedalamos uma bicicleta. Notemos que para o Ser humano e sua natureza de andar não são nunca lembrados seus primeiros passos, mas nem por isso não devemos pensar que o ser humano, em sua natureza, não se tenha usado de uma lógica para estes primeiros passos: lógica inata que alguns desistem de pedalar pelo medo, não ao simples ato de pedalar, mas pela surpresa em observarem que compreendem os movimentos de seu corpo que agora estão coordenados com o movimento da bicicleta.
          Assim é a leitura de Russell, pelo menos ao que parece ao sentarmos em sua bicicleta, ou em seus conceitos. Uma vez que Russell determine seu c entre aspas (“C”) vai então conceituá-lo com o símbolo Ҩ para elaborar seu teste lógico.
          Não podemos perder de vista que Russell pretende abandonar uma interpretação da denotação (ou referência[4]) como sendo algo que se subsista na própria expressão denotativa, isto é quando numa expressão denotativa, a denotação não denotar nada, Russell propõe [5]: “[...] abandonar a perspectiva de que a denotação é o que se concerne nas proposições que contêm expressões denotativas [... esta] posição é defendida por mim.”
          Russell exercita o uso da lógica em suas expressões. Talvez com isso Russell esteja por demonstrar uma prova lógica a uma expressão de fundo linguístico. Isto significa que Russell está executando uma verdadeira filosofia da linguagem; até mesmo pela afirmação sobre “C” que chega a fazer [6]: “Assim ‘C’, que é o que usamos quando queremos falar do significado, não deve ser o significado, mas algo que denota o significado.”
A Prova pelo teste lógico.
          Se existe um ‘único’ x tal que F de x então a expressão denotativa é válida. É válida até porque pode ser destacado este ‘único’ como resultado de uma busca que nossa função, acima descrita, exerce para denotar um significado e mostrar que este significa não é contraditório em razão de que ele existe.
          Contudo, se este ‘único’ x da função que se busca não existe, então ele não pode ser ‘não contraditório’, uma vez que, como vimos, este ‘único’ x não existe. Ora, se não existe então como poderá ser alguma coisa? Em vão será qualquer esforço para se denotar um significado.
          A grande charada deste caminho lógico russeliano parece prender-se a validarmos este não existir de Ҩ através não mais da redução de Scott, mas agora pelo uso de uma ‘expressão significativa’, isto é, de uma expressão que dê o significado necessário que a expressão denotativa requer, tornando assim aquele não existir de Ҩ como podendo ser verdadeiro. Afinal a não existência de algo pode ser mesma que a falsa existência do mesmo algo, apenas e tão somente se considerarmos a peculiaridade de como ocorre este algo em toda a ‘expressão significativa’ sempre a partir de uma expressão denotativa.
          O exemplo do “atual rei da França é careca” de Russell é transcrito para que possamos elaborar o parágrafo anterior:
“Assim, ‘o atual rei da França é careca’ é certamente falsa; e ‘o atual rei da França não é careca’ é falsa se significa
‘existe uma entidade que é agora rei da França e não é careca’, mas é verdadeira se significa
‘é falso que existe uma entidade que é agora rei da França e é careca.’[7]"
          Assim, o ‘rei da França’ que é a expressão denotativa é uma ocorrência primária e é sempre falsa porque vai denotar a sua existência e sabemos, é falsa.
          Porém, o ‘rei da França’, que como vimos é uma expressão denotativa, quando se torna uma ocorrência secundária é sempre verdadeira porque vai denotar sobre ser ‘careca’; afinal nunca soubemos de um rei da França que fosse careca, não é mesmo?
          Portanto, o ser da existência do rei da França é denotado por duas vias, a saber:
1ª a existência de ser como uma existência dada pelo predicado (primário);
2ª a existência do ser como o próprio predicado (secundário).

Conclusão
          Bertrand Russell deve ser lembrado como o primeiro ícone de uma filosofia da linguagem. Não podemos nos esquecer de Frege e sua valorosa contribuição e nem de Wittgenstein que o próprio Russell vai buscar subsídios para seu atomismo. Frege e Wittgenstein foram contemporâneos da fase inicial de Russell, mas é Russell que se debruça nos problemas da semântica por uma filosofia da linguagem e constrói, por assim dizer, a ciclovia de sua lógica pacifista.

Referências Bibliográficas
RUSSELL, B. Lógica e conhecimento. Tradução de Pablo Ruben Mariconda. São Paulo: Abril Cultural, 1974. 426 p. Os pensadores vol. XLII.

E – referências
FREGE, F. L. G. Scridb. Sobre o sentido e a referência, 2009. Disponivel em: <http://pt.scribd.com/doc/56489804/Frege-Sobre-o-Sentido-e-a-Referencia>. Acesso em: 10 Março 2012. [in: ALCOFORADO, P. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cutrix, 1978. 160 p.].
KRAUSE, D. http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause/. Universidade Federal de Santa Catarina, 13 Fevereiro 2009. Disponivel em: <http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause/pg/cursos/Ontologia/TeoriaDescricoes.pdf>. Acesso em: 12 Fevereiro 2012.


[1]  (FREGE, 2009)
[2]  (RUSSELL, 1974)
[3]  (KRAUSE, 2009)
[4]  (FREGE, 2009)
[5]  (RUSSELL, 1974, p. 13)
[6]  Ibidem, p. 16
[7]  Ibidem, p. 18

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